quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Junot Diaz

Uma entrevista audio do autor aqui. Onde se encontra também um excerto do livro.

Deixo ainda o texto que lemos na aula, sobre como transformar a memória numa narrativa.

JUNOT DIAZ

Perguntem aos velhos e eles dirão: Trujillo era um ditador, mas era um ditador dominicano, que é outra maneira de dizer que era o Bellaco número um do país. Acreditava que todo o toto na RD era, literalmente, seu. É um facto bem documentado que na RD de Trujillo, caso fosses de uma determinada classe e pusesses a tua filha gira perto do El Jefe, em menos de uma semana ela estaria mamando no seu ripio, como uma velha profissional, e não havia nada que pudesses fazer acerca do assunto. Era parte do preço de se viver em Santo Domingo, e um dos segredos mais bem guardados da ilha.

(...)

Já o vi aqui com frequência, Doctor, mas ultimamente sem a sua mulher. Divorciou-se?

Continuo casado, sua Excelência, com Socorro Hernández Batista.

É bom saber isso, disse El Jefe, temi que se tivesse tornando num maricón. Então, virou-se para os seus lambesacos e riu-se. Oh Jefe, disseram eles, o senhor é de mais.

Seria nesta altura que outro mano talvez dissesse, numa demonstração de cojones, alguma coisa para defender a sua honra. Abelard não era esse mano. Não disse nada.

Mas claro, disse El Jefe, limpando uma lágrima de riso de um dos olhos, você não é um maricón, porque ouvi dizer que tem duas filhas, Dr. Cabral, uma que es muy bella y elegante, não?

Abelard tinha ensaiado uma dúzia de respostas para esta pergunta, mas a sua reacção foi um reflexo puro, vinda do nada: Sim, Jefe, tenho duas filhas. Mas para lhe dizer a verdade, só podem ser consideradas bonitas para quem gosta de mulheres com bigode.


Sem comentários:

Enviar um comentário