O meu pai foi o mais corajoso de todos, até ao final dos meus dias.
Coveiro de profissão fez questão de me preparar a sepultura.
Fundas, rectas, perfeitas como a minha, cavou-as toda a vida. Repetiu-as com brio, para amigos, alguns parentes, para a minha mãe, há muitos anos.
Nos caminhos do cemitério, sempre percorridos a passo de passeio, sabia cada esquina no seu lugar.
Perdeu o tino, a compostura, os modos discretos quando, finalmente, a doença me sugou a vida.
Daria a sua pela minha, num segundo, sem receios. O homem bom ajustaria contas com o diabo, no momento certo do destino para lhe pagar o pacto.
Nas sombras de silêncio, por entre campas, jazigos, coroas de flores e abraços, revolveram-se-lhe o estômago e o peito. A visão turva, o peito comovido como nunca, como na tarde em que morri.
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