Uma turma, dois professores. Fiquei na metade do professor que não ganhou o prêmio. A colaboração inicial foi ganhando tons de cinza, até o ponto em que a disputa tornou-se evidente.
O sumiço de alunos foi o primeiro revés do Sem Prêmio. Ele, que aparentemente tinha saído na frente – dicção perfeita, contra um clássico engolidor de sílabas – foi perdendo a confiança a cada nova cadeira vazia. E foram muitas, todas em sua metade.
Creio que foi quando percebeu que até os Escritores Convidados (todos com prêmio, diga-se de passagem) só se referiam ao Engolidor de Sílabas que o pobre despremiado desesperou-se. Parece-me que não resistiu ao clichê “só há espaço para um jovem talento promissor nesta sala”.
Na mesma aula, aproveitou o já institucionalizado “momento do cigarro apenas para professores” (os alunos que fiquem escrevendo textos como este em apenas 10 minutos, no auge da abstinência de nicotina) para seu ato final. De dentro da sala, tudo o que ouvimos foi o Sem Prêmio a gritar: “não, não faça isso, já prometi não revelar a ninguém que você roubou de mim o seu romance premiado, Três Vidas”. Mesmo desconfiada da verossimilhança do diálogo, corri para o terraço, assim como todos os alunos.
Chegamos no clímax, com o Sem Prêmio caindo parapeito abaixo, o olhar de terror na face, os óculos do Engolidor de Sílabas entre seus dedos. Aquele que supostamente empurrou tinha mesmo sinais de luta no semblante, um arranhão no rosto, o cabelo - que costuma ser uma peça uniforme – até despenteado.
Ficou ali, atônito, inerte, pela primeira vez sem sílabas para engolir. Até hoje não proferiu palavra e aguarda a sentença do julgamento em prisão preventiva.
Acredito em sua inocência – e admiro o engenho do Sem Prêmio. Aposto que, ao roubar-lhe a condecoração em seu último ato, ainda pensou que esta seria a definitiva: afinal, o gênero dos romances de cárcere já deu o que tinha para dar.
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