Foi no meu primeiro dia de trabalho na fábrica que aquilo começou. Eu que mal tinha saído do centro de Lisboa a não ser para ir comprar caramelos a Badajoz. Que experiência! Procurar uma fábrica no meio da confusão industrial de Sacavém é obra. Tinha acordado de noite na pequena casa que os meus pais me deixaram no elevador da Bica e enfiei-me num autocarro cheio de senhoras das limpezas e homens das obras. Senti-me parte da amálgama humana que mantém o mundo nos eixos. Algum orgulho até por causa deste grande ego nunca me larga. Ao longe vi os primeiros raios de sol lá longe sobre a lezíria. Na portaria tinha o Nicolau à minha espera.
- Então pá? Estamos atrasados. Logo no primeiro dia pôrra. Assim não vamos longe.
- 15 minutos. Até dá charme vais ver.
Na verdade deixaram-nos à espera mais de uma hora ainda. Houve tempo para tudo entretanto. Até para conhecer a matulona da Deolinda que era secretária do homem. Mal eu sabia as coisas loucas que ela ainda me haveria de fazer. Estávamos no segundo café da máquina chiante que devia estar ali desde a revolução industrial quando me bateram nas costas.
- Você deve ser o filho do Albino certo? Vê-se logo pela sua cara. Venham entrem para o meu gabinete.
Nunca tinha visto nada assim. E muito menos o esperaria ali no meio daquela fábrica perdida na neblina de Sacavém. O gabinete era uma exibição da mais avançada tecnologia que eu já tinha visto. Senti-me noutro país. Que raio nos quereria este tipo? O meu pai sempre me disse o melhor dele e isso descansava-me um pouco. Mas na verdade só o tinha visto no funeral e pouco sabia da sua vida.
- Sabem alguma coisa da dinastia Ming?
Eu e o Nicolau olhámos um para o outro e mantivémos o silêncio.
- Não tem problema. Têm tempo de sobra no avião para estudar a documentação. Se concordarem partem para a China hoje mesmo.
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